Autor

Clara Machado Carneiro

São Paulo – Em uma tarde comum de terça-feira, no agito da redação, eu me preparei para mais uma entrevista de rotina. O tema era a ascensão de um novo nome no cenário da arquitetura sustentável brasileira. O que eu não poderia imaginar era que aquela conversa, marcada para durar uma hora, iria desvendar uma história familiar enterrada pelo tempo e pela geografia, revelando que eu e meu entrevistado éramos, na verdade, parentes distantes.

Meu entrevistado, que chamarei de Rafael Costa, chegou pontualmente ao café combinado na Vila Madalena. Elegante e tranquilo, ele era o retrato do sucesso profissional que eu esperava encontrar. A conversa começou como centenas de outras que já conduzi: projetos visionários, conceitos de urbanismo, desafios da profissão. A química era boa, e o papo fluía naturalmente.

Como costumo fazer para humanizar as matérias, gosto de tocar no assunto das origens das pessoas. Perguntei sobre suas influências, sobre o que o motivou a seguir esse caminho.

“Minha família sempre valorizou a construção”, ele disse, tomando um gole de seu café. “Meu bisavô, pelo lado da minha mãe, era um mestre de obras no interior de Minas Gerais. Ele veio para São Paulo nos anos 50, praticamente com uma mala de roupas e uma caixa de ferramentas. A história dele sempre me inspirou.”

Um detalhe me chamou a atenção. “Minha família também é de Minas”, comentei, mais para criar empatia do que qualquer outra coisa. “Minha avó materna era de uma cidadezinha próxima de [Nome Fictício de uma Cidade]. Ela sempre falava que o pai dela, meu trisavô, também era construtor e que se mudou para o Rio de Janeiro antes de vir para cá. Dizia que ele tinha um irmão que ficou para trás e perderam o contato.”

Rafael inclinou a cabeça, interessado. “Que coincidência. A cidade da minha família é perto daquela região. E o nome do meu bisavô era Heitor.”

O ar pareceu sair do meu peito. Eu me encostei na cadeira, tentando processar a informação. “Heitor?”, repeti, minha voz quase um sussurro. “O meu trisavô… o irmão que ficou em Minas… os registros da família dizem que seu nome era Heitor.”

O silêncio que se instalou entre nós era pesado, carregado de uma incredulidade palpável. Dois completos estranhos, sentados em um café em São Paulo em pleno século XXI, conectados por uma história do início do século passado.

O que se seguiu foi uma troca frenética de informações. Nomes de parentes, cidades, profissões, histórias de família que ecoavam uma à outra de uma forma que era impossível ignorar. A entrevista profissional foi completamente abandonada. Em suas telas de celular, fotos desbotadas de álbuns de família digitalizados revelavam rostos com traços surpreendentemente familiares.

Aos poucos, reconstruímos a história: dois irmãos, filhos do mesmo pai e da mesma mãe, separados pelas circunstâncias difíceis da época. Um partiu para tentar a vida no eixo Rio-São Paulo. O outro permaneceu em Minas Gerais. Com o tempo, as cartas pararam de chegar, as notícias se perderam e as famílias cresceram como duas árvores distintas, sem saber que compartilhavam as mesmas raízes.

No final daquela tarde, não nos despedimos como jornalista e fonte. Nos despedimos como primos em terceiro grau, com um abraço apertado e a promessa de uma reunião de família inusitada. Combinamos de juntar fotos, documentos e apresentar nossas famílias umas às outras.

Saí dali com uma lição poderosa: o Brasil pode ser um país continental, nossas vidas podem ser corridas e anônimas, mas os laços que nos unem são mais resistentes e surpreendentes do que podemos imaginar. Às vezes, o destino nos coloca frente a frente com nossa própria história nos lugares mais improváveis. No meu caso, foi em uma entrevista de trabalho, sobre arquitetura, em um café de São Paulo.

A matéria sobre arquitetura sustentável ficou para outro dia. Algumas histórias, afinal, são maiores do que qualquer deadline.

A corrupção é um dos principais obstáculos ao desenvolvimento político, social e econômico. Ela compromete a confiança nas instituições, desvia recursos que deveriam ser aplicados em políticas públicas e perpetua desigualdades. Por isso, a busca por maior transparência na gestão pública tornou-se prioridade em muitos países.

A corrupção assume diferentes formas: desde o suborno e o clientelismo até esquemas sofisticados de lavagem de dinheiro. Em contextos de fragilidade institucional, esses mecanismos tornam-se mais comuns, alimentando um ciclo vicioso de impunidade. Quanto menor a fiscalização e a participação cidadã, maior o espaço para práticas ilícitas.

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O sistema internacional passou por profundas transformações desde o fim da Guerra Fria. Durante a década de 1990, acreditou-se na consolidação de uma ordem unipolar, liderada pelos Estados Unidos. No entanto, o início do século XXI trouxe sinais claros de transição para um mundo multipolar, no qual diferentes potências competem e cooperam simultaneamente.

A ascensão da China é um dos fatores centrais desse processo. Com crescimento econômico acelerado e investimentos em tecnologia e infraestrutura, o país tornou-se protagonista em instituições multilaterais e projetos globais, como a Iniciativa do Cinturão e Rota. A Rússia, embora com economia menos robusta, exerce influência significativa por meio de seu poder militar e recursos energéticos.

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O populismo é um fenômeno político recorrente que ganha força em contextos de crise. Sua principal característica é a oposição entre “o povo” e “a elite”, com líderes que se apresentam como porta-vozes legítimos da maioria silenciosa. Embora não seja uma ideologia em si, o populismo pode assumir diferentes matizes, à esquerda ou à direita.

O impacto do populismo na governança costuma ser ambíguo. De um lado, pode revitalizar o debate político ao dar visibilidade a demandas negligenciadas. Movimentos populistas frequentemente denunciam corrupção, burocracia excessiva ou injustiças sociais. Em sociedades onde instituições são vistas como distantes, essa retórica conecta-se de maneira poderosa com a população.

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As redes sociais transformaram radicalmente a forma como cidadãos se informam, interagem e participam da política. O que antes dependia de jornais impressos, rádio ou televisão passou a ocorrer em tempo real, em plataformas como Twitter, Facebook, Instagram e TikTok. Essa mudança trouxe tanto oportunidades quanto riscos para os sistemas democráticos.

Entre as oportunidades, destaca-se a ampliação do acesso à informação. Nunca foi tão fácil acompanhar debates, discursos, propostas de candidatos e decisões governamentais. Além disso, movimentos sociais encontraram nas redes um canal eficaz de mobilização. As manifestações da Primavera Árabe ou os protestos por justiça racial nos Estados Unidos demonstram como hashtags e transmissões ao vivo podem romper barreiras geográficas e pressionar governos.

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A democracia, ao longo da história, consolidou-se como o regime político mais valorizado no Ocidente. Desde a Grécia Antiga, quando os cidadãos reuniam-se nas ágoras para deliberar sobre os rumos da cidade, até os sistemas representativos modernos, a democracia passou por inúmeras transformações. Entretanto, no século XXI, esse modelo enfrenta novos desafios que colocam em dúvida sua capacidade de responder adequadamente às demandas sociais.

Um dos maiores problemas contemporâneos é a crescente desigualdade econômica. Em muitos países, a concentração de renda faz com que grupos minoritários tenham influência desproporcional sobre o processo político. Grandes corporações, por meio de lobby e financiamento de campanhas, conseguem moldar legislações de acordo com seus interesses. Essa distorção enfraquece a noção de que todos os cidadãos possuem igual peso político.

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A revolução tecnológica transformou profundamente a maneira como produzimos e consumimos arte. Nas últimas décadas, a digitalização abriu novas possibilidades criativas, dando origem a linguagens inéditas, como a arte digital, as instalações interativas e os NFTs.

A arte digital abrange desde pinturas feitas em softwares até obras complexas que utilizam realidade aumentada e inteligência artificial. Artistas contemporâneos exploram o potencial das telas, algoritmos e ambientes virtuais, questionando os limites entre o humano e a máquina.

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Durante séculos, a história da arte foi narrada quase exclusivamente a partir da perspectiva masculina. Muitas artistas talentosas foram esquecidas ou invisibilizadas por estruturas sociais que restringiam o acesso das mulheres à educação e aos espaços de produção artística. No entanto, ao longo do tempo, elas conquistaram reconhecimento e desafiaram paradigmas.

Na Idade Moderna, algumas pintoras conseguiram destaque apesar das barreiras. Sofonisba Anguissola, no século XVI, tornou-se uma das primeiras mulheres a alcançar notoriedade na corte europeia. Já Artemisia Gentileschi, no século XVII, destacou-se pelo domínio da pintura barroca, abordando temas de força feminina em um contexto dominado por homens.

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A música brasileira é uma das expressões artísticas mais ricas do mundo, justamente por refletir a diversidade cultural que forma o país. Mistura de influências indígenas, africanas e europeias, ela foi, ao longo dos séculos, um espelho da sociedade e também um motor de transformação.

O samba, nascido nos terreiros e periferias do Rio de Janeiro no início do século XX, é um exemplo emblemático. Inicialmente marginalizado, tornou-se símbolo nacional, integrando diferentes classes sociais e consolidando-se como parte fundamental da identidade cultural brasileira. O Carnaval, com suas escolas de samba, elevou ainda mais essa expressão à categoria de patrimônio cultural.

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No início do século XX, a arte europeia atravessava um período de inquietação criativa. Os artistas buscavam romper com as tradições acadêmicas e abrir espaço para novas linguagens visuais. Nesse contexto, a arte africana teve papel fundamental como fonte de inspiração, influenciando diretamente os movimentos de vanguarda, especialmente o Cubismo e o Expressionismo.

As esculturas e máscaras africanas, muitas vezes trazidas por exploradores e comerciantes, despertaram fascínio nos artistas europeus. O que mais impressionava não era apenas a estética exótica, mas a liberdade formal: rostos estilizados, geometrias marcantes, simplificação de volumes. Essas características ofereciam alternativas radicais ao realismo ocidental e abriram caminho para novas concepções da figura humana.

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